Minhas experiências com as Artes Marciais vêm especificamente do Karate-Do, que significa “Caminho das Mãos Vazias”. Porém, entendo que todas as artes marciais possuem expressivo valor, desde que sejam orientadas por profissionais competentes e comprometidos também com a evolução moral dos seus praticantes.
Discorrerei aqui sobre minha impressão adquirida através de muitas décadas de prática do Karate-Do, seja competindo ou ensinando crianças e jovens moradores das periferias paulistanas, em vários equipamentos públicos e também privados.
Antes, porém, cabe aqui um brevíssimo histórico sobre o Karate-Do, uma antiga arte de luta, originária do oriente. O mais provável é que ele tenha surgido como inspiração da arte chinesa denominada Kung Fu, mas foi no Japão do século XVIII, mais especificamente na ilha de Okinawa, época em que o uso das armas para a população fora proibido naquela região, que o karate-Do foi sistematizado e seus movimentos foram criados a partir da observação de alguns animais, como águia, tigre, serpente e garça.
Alguns apontam o Karate-Do como o “zen em movimento”, por causa da influência do zen-budismo em sua concepção. Além da comprovada eficácia como defesa pessoal, sua prática também valoriza a busca pelo equilíbrio corporal e mental, daí a grande importância do kata, sequência de ataques e defesas com movimentos previamente coreografados, simulando uma luta com vários adversários imaginários.
Observa-se que foi no fim do século XIX, que a arte do Karate-Do se espalhou de Okinawa para o resto do Japão e com o advento da imigração, o já conhecido método de luta das mãos vazias alcançou o mundo.
Muito tempo depois, seguindo obviamente as naturais transformações evolutivas, tanto no Japão, quanto em outras partes do mundo onde o Karate-Do já havia se consagrado, foi surgindo uma nova visão em relação às atividades que trabalhavam diretamente com o corpo, propondo algumas mudanças na maneira de se aquecer, alongar e o treino dos exercícios para se adquirir força muscular. Cabe ressaltar que muito dos ensinamentos originais para o fortalecimento do corpo permaneceram inalterados, por se tratar o Karate-Do de uma complexa modalidade de luta, com movimentos bastante específicos.
Voltando à minha experiência com o Karate-Do para alunos desprovidos de recursos financeiros para a sua prática, no que pude observar em vários locais em que a modalidade fora ensinada por inúmeros desbravadores da arte, é que esses professores travavam uma árdua luta, pois embora o ensino da modalidade não necessitar de sofisticados e caros equipamentos em sua execução, alguns fatores são precisos para que se tenha um excelente resultado e o aluno consiga assimilar a proposta do Karate-Do. Entre estes fatores cito a falta de locais apropriados às aulas, vestimentas inadequadas, alimentação deficitária dos alunos, dificuldade de adaptação à disciplina marcial, desajustes na estrutura familiar e até mesmo a falta de apoio financeiro aos professores e lacunas em sua formação pedagógica, que em muitas situações se desdobram como podem para conseguir transmitir seus conhecimentos aos seus pupilos.
Além de administrar a parte física do esporte, que consiste em proporcionar ao aluno um corpo forte, com condições de autodefesa quando necessitar, o Karate-Do também traz em seu currículo importantes fatores como saúde, disciplina, cortesia, caráter, companheirismo, respeito, hierarquia, perseverança, resiliência, autoestima, entre outros. Vejo aí o ponto crucial para uma formação e apoio de diferentes formas aos que desejam transmitir sua arte a crianças e adolescentes, contando que são seres que ainda estão em formação e toda orientação e exemplos são facilmente assimilados.
Na arte do ensino do Karate-Do existem várias vertentes, sendo uma delas a promoção da competição entre alunos, onde cada um irá mostrar da melhor maneira possível o que aprendeu nos treinos. Esse é um importante item, pois cada vez mais as agremiações vêm incentivando em suas aulas o aspecto competitivo da luta. Assim sendo, o professor necessita estar atento a tudo que envolve o fator competir, como planejamento dos treinos, autoestima, lidar com a vitória e derrota e administrar corretamente as questões do ego. É importante que se diga que para ensinar pessoas a competir, requer também que o professor conheça minimamente sobre o auto rendimento e suas nuances.
Destarte a FUNCLOB vem despontando como uma entidade que observa todos esses relevantes fatores e sai na frente com propostas de apoio e capacitação dos professores, não só do Karate-do, mas também de qualquer outra Arte Marcial que se preocupa em formar bons cidadãos, através de seus projetos sociais, com a boa intenção de tirar crianças da rua e devolver posteriormente essas crianças às mesmas ruas, só que modificadas, pois entendemos que o bom ensino marcial afeta sobremaneira a conduta de toda comunidade.

Edmundo Barboza Silva
Membro do Conselho Curador da FUNCLOB